Não
há estudos realmente amplos e de acompanhamento suficientemente duradouro de pacientes
tratados de hemorroidas.
Crises sintomáticas isoladas de
sintomas hemorroidários costumam responder satisfatoriamente ao tratamento
clínico. Sinal disto é o grande número de pacientes hemorroidários que se automedicam e deixam
de procurar aconselhamento médico, movidos por uma série de barreiras que os impedem de
assumir a conduta correta.
Hemorroidas que apresentam sintomas mais pungentes e repetitivos, por
outro lado, acabam vencendo as resistências que o paciente possa ter e levam-no a
procurar auxílio médico.
Os resultados do tratamento clínico não invasivo variam de acordo
com a gravidade da doença hemorroidária apresentada pelo paciente. Hemorroidas não
sintomáticas, descobertas ao acaso no exame físico do paciente, não requerem
tratamento, talvez apenas aconselhamento quanto à dieta (evitar condimentos picantes,
bebidas alcoólicas), ao ritmo e hábito intestinal (evacuar após o desjejum, não ler no
banheiro, não forçar indevidamente a evacuação de fezes de pequeno volume, não usar
papel higiênico) e ao efeito, sobre a
região anal, de atividades que exijam grandes esforços físicos (evitar o aumento excessivo da força da prensa abdominal). Hemorroidas de 1º grau ou
de 2º grau inicial que sangram em pacientes com constipação intestinal podem deixar de
ser sintomáticas apenas com o amolecimento das fezes propiciado por uma dieta rica em
resíduos ou com o emprego de medicações laxativas moderadoras do trânsito intestinal
(à base de metilcelulose). O emprego de medicações vasotrópicas embora aparentemente
pareça conferir alívio sintomático para alguns pacientes, não possui estudos
controlados que justifiquem seu uso embasado em resultados objetivos. O mesmo ocorre com o
uso de medicações de uso tópico. Hemorróidas externas trombosadas, em nossa
experiência, são tratadas clinicamente com o emprego de antiinflamatórios não hormonais de uso
oral ou retal e banhos de assento mornos. A grande maioria regride ao cabo
de 3 a 4 semanas, algumas vezes deixando um plicoma como "reliquat", mas sem maiores
conseqüências clínicas.
Os resultados do tratamento clínico invasivo
publicados na literatura em geral constam de
diversas casuísticas com números relativamente pequenos de pacientes que comparam dois
ou mais métodos de fixação mucosa entre si, em seguimentos não muito longos.
De sua análise, pode-se depreender que, para hemorróidas sintomáticas de 1º
grau e 2º grau inicial, tanto a escleroterapia, a ligadura elástica de hemorróidas, a
fotocoagulação infravermelha como a destruição pela diatermia bipolar dão resultados
igualmente satisfatórios, dependendo da perícia do executor do método e do volume do tecido hemorroidário tratado, pois, por exemplo, a estabilidade de anéis elásticos após a ligadura de pequenas hemorróidas não é adequada. Um tratamento
clínico invasivo bem indicado e aplicado conferirá alívio sintomático por em média 3 anos. Se houver recidiva
precoce dos sintomas, o mesmo método ou um dos outros existentes pode novamente ser
aplicado, antes de se decidir pelo tratamento cirúrgico convencional. Para hemorroidas
de 2º grau, a ligadura elástica tem conferido os melhores resultados obtidos na clínica, pois, além de
causar a fixação da mucosa circunjacente, promove uma verdadeira mini-hemorroidectomia
no paciente. A ligadura elástica de hemorroidas tem tornado assintomáticos até 80 % dos pacientes portadores deste grau
de hemorroidas e seus bons resultados costumam perdurar por até 3 anos. Para hemorroidas de 3º grau inicial, há quem tente a ligadura elástica, muito embora os resultados satisfatórios com o método quedem-se para em torno de 50% dos casos e não sejam tão duradouros quanto os das hemorroidas de 2º grau. Coxins hemorroidários de terceiro grau, principalmente os avançados, e os de quarto grau são de tratamento cirúrgico convencional ou por meio tanto do procedimento para o prolapso de hemorróidas quanto pela THD.
Hemorroidas excisadas adequadamente por uma das técnicas de
hemorroidectomia convencional não retornam. Outras hemorroidas, no entanto, podem vir a
se formar com o passar dos anos, à semelhança das originais. É bom que isto seja
explicado ao paciente, pois o mesmo deve ser orientado a instituir hábitos que
diminuam a tendência à formação de hemorroidas, conforme assinalado acima. É bem
verdade, que não poderemos retirar a tendência inata do paciente ao desenvolvimento da
doença hemorroidária ou desaconselhar uma gravidez numa paciente em idade fértil, mas
ele e ela devem ser orientados a evitar a constipação, controlar a diarreia,
instituir um hábito intestinal saudável e evitar atividades e atitudes que
possam ser potenciais formadoras de hemorroidas (halterofilismo, ficar na posição de
cócoras por períodos prolongados de tempo, etc).
Além da recidiva, as complicações mais freqüentemente encontradas no pós-operatório de hemorroidectomias convencionais são dor, retenção urinária, formação de plicomas, hemorragia reacional (ocorre nas primeiras horas de pós-operatório) ou secundária (ocorre no 7º- 10º P.O.), formação de fissuras anais, desenvolvimento de abscessos-fístulas e desenvolvimento de estenose.
Os resultados iniciais do procedimento para hemorróidas prolapsantes (PPH) têm sido empolgantes principalmente no tocante à quase que ausência de dor no pós-operatório e ao retorno rápido às atividades funcionais. A preservação do tecido hemorroidário interno proporcionado pela técnica concorre para restaurar a estrutura anatômica do canal anal para o estado em que estava antes de ocorrer o descolamento dos coxins hemorroidários. Conjetura-se há certo tempo que a justaposição dos abaulamentos hemorroidários de um e de outro lado do canal anal forma um mecanismo valvular responsável pela continência "fina" do canal (para gases e fezes líquidas). A preservação dos coxins hemorroidários em sua posição natural, então, seria o objetivo a ser alcançado por técnicas que pretendessem curar a doença hemorroidária, sem mutilar anatomicamente o canal anal. Algumas complicações ligadas ao PPH, no entanto, têm sido descritas, tais como incontinência fecal de maior ou menor grau e duração, estenose retal e sepse perineal. Quanto à cura da doença hemorroidária, há necessidade de maior tempo de observação (uma vez que o procedimento não é antigo - foi apresentado em 1998) para sabermos se os resultados do PPH serão análogos aos da hemorroidectomia convencional. Apesar de haver relatos de recidiva mais precoce de prolapso após a técnica do PPH, estudo randomizado de 2013 demonstra que ao final de 3 anos os resultados da técnica são semelhantes aos da hemorroidectomia aberta.
Já para a THD, muito embora tenha sido inicialmente preconizada por Morinaga em 1995, só mais recentemente passou a ser mais amplamente utilizada em associação com uma sutura de suspensão da mucosa "prolapsada". Por ser técnica facilmente aprendida, tem sido amplamente utilizada, sendo responsável por pós-operatórios praticamente indolores e com resolução, pelo menos a curto prazo, do prolapso hemorroidário. O procedimento ainda se encontra em investigação quanto às suas vantagens em relaçao ao PPH e à hemorroidectomia convencional. (Song & Kim, 2011) |