Anatomia Anorretal

COSTA E SILVA, I.T. Abscesso-fístula anal: anatomia anorretal. Módulos de Coloproctologia. Disciplina Cirurgia do Sistema Digestório, Órgãos Anexos e Parede Abdominal. Universidade Federal do Amazonas. Disponível em: <http://home.ufam.edu.br/dcc1/modulos/IV/ana_sup.htm>. Acesso em: 30/7/2019.
   O canal anal é composto basicamente por dois tubos musculares sobrepostos: o esfíncter interno, espessamento terminal da musculatura circular da parede do intestino grosso, e o esfíncter externo, extensão terminal da musculatura levantadora do ânus.  O esfíncter externo, classicamente descrito como sendo composto de três fascículos, o profundo, o superficial e o subcutâneo, aparentemente possui apenas uma região que se destaca de sua substância principal, que é sua porção subcutânea. O restante do esfíncter externo parece formar um tubo muscular contínuo com o músculo puborretal (que forma o anel anorretal, sentido ao toque retal), porção mais interna da musculatura levantadora do ânus (formada também pelos músculos iliococcígeo e pubococcígeo) que constitui o assoalho muscular da pelve. O esfíncter interno é composto de musculatura lisa, comandado por inervação autônoma, enquanto que o externo é formado de musculatura estriada, possuindo inervação somática.

   Entre estes dois tubos musculares existe um espaço (interesfinctérico) no qual transitam fibras musculares lisas, oriundas da musculatura longitudinal do reto, que se misturam com fibras musculares estriadas, advindas da musculatura levantadora do ânus, e formam a musculatura longitudinal conjunta (ou ligamento longitudinal conjunto) do canal anal. A musculatura longitudinal conjunta, no terço inferior do canal anal abre suas fibras em leque e atravessa os esfíncteres anais, dividindo-os em compartimentos musculares. As extensões terminais destas fibras inserem-se na pele do ânus formando o músculo corrugador da pele do ânus. Algumas extensões mediais atravessam o esfíncter interno e inserem-se no epitélio do canal anal, na altura da linha pectínea, formando o ligamento suspensor da mucosa.

   Lateralmente ao esfíncter externo situa-se a fossa isquiorretal, delimitada pelo tubo muscular esfinctérico medialmente, pela pele perianal inferiormente, pela fáscia obturatória lateralmente, pela musculatura levantadora do ânus cranialmente, pelo diafragma urogenital e musculatura transversa do períneo anteriormente e pelo ligamento sacrotuberoso e borda inferior do músculo glúteo máximo posteriormente. A fossa isquiorretal divide-se em espaço isquiorretal, superiormente situado e preenchido por gordura de lóbulos grosseiros, e espaço perianal ou isquioanal, disposto inferomedialmente e preenchido por gordura de lóbulos delicados, em tudo semelhante à que é observada no tecido celular subcutâneo do resto do corpo. Tal compartimento contém a porção inferior do esfíncter externo e o plexo hemorroidário externo e ocupa a região situada desde as extensões mais laterais da musculatura corrugadora da pele do ânus até o nível da linha pectínea, onde termina no ligamento suspensor da mucosa. O espaço isquiorretal de um lado conecta-se com o contralateral por meio do espaço retroesfinctérico (de Courtney), situado sob a rafe anococcígea do esfíncter externo do ânus.

   Superiormente à musculatura levantadora do ânus situa-se o espaço supralevantador ou pelvirretal que é delimitado pelo peritônio do assoalho pélvico cranialmente, pela musculatura levantadora do ânus caudal e lateralmente e pela parede retal medialmente. É preenchido pelo tecido conjuntivo frouxo dos ligamento laterais do reto.

   Medialmente situado em relação ao esfíncter interno, entre ele e a mucosa do canal anal, situa-se o espaço submucoso, que termina inferiormente no ligamento suspensor da mucosa, na linha pectínea, e continua-se cranialmente com a camada submucosa do reto.

   O canal anal cirúrgico é revestido, na sua metade inferior (2 cm), por pele modificada (epitélio pavimentoso sem anexos), e, na sua metade superior (2 cm), por mucosa (epitélio cilíndrico simples), que ao exame histológico demonstra ser mucosa retal. A transição de epitélio pavimentoso para cilíndrico se faz ao longo de uma zona de cerca de 0,5 a 1 cm de extensão situada cranialmente à junção mucoepidérmica, que é formada inicialmente por camadas múltiplas de células cuboidais, que vão diminuindo em número até o epitélio transformar-se em cilíndrico simples.

A linha pectínea (do latim pecten, pente, também crista de galo) forma a região de demarcação anatômica entre pele e mucosa anal. Ela possui o aspecto de crista de galo pelas pequenas invasões digitiformes que a pele do canal faz para o território da mucosa. A linha pectínea também é denominada de linha denteada, por seu formato, ou de linha das válvulas anais, pois nela existem pequenas projeções teciduais que abrem e fecham minúsculas cavidades, denominadas criptas anais, como se fossem a porta de um alçapão. No fundo de algumas criptas abre-se o orifício de glândulas anais, que são projeções tunelizadas da mucosa anal para o interior da parede do canal anal. As glândulas anais seguem um trajeto tubular no início, que se ramifica, conferindo-lhe um aspecto racemoso. Seu trajeto é oblíquo descendente a partir de seu orifício críptico, atravessando sempre a submucosa, o esfíncter interno, na maioria das vezes, até alcançar o espaço interesfinctérico, em cerca de um terço dos casos.

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