Conservador
1. Não invasivo
O tratamento das hemorróidas varia de acordo com o grau e a
gravidade dos sintomas apresentados pelo paciente, com o grau do prolapso, com a
experiência do cirurgião e com a disponibilidade do material necessário. Vai desde uma
simples orientação para pacientes com graus iniciais de hemorróidas não complicadas
até à hemorroidectomia ( a extirpação cirúrgica de hemorróidas complicadas).
A orientação quanto à manipulação da dieta é importante em
pacientes que apresentam constipação intestinal ou diarréia, ambos fatores que aumentam
a pressão sobre os coxins vasculares anais e propiciam a formação hemorroidária. A
constipação pode ser combatida com o farelo de trigo (30 g por dia) ou laxantes
encorpadores das fezes (pó da semente do psyllium, 30 g por dia), com a instituição de
um ritmo intestinal regular (evacuar após o desjejum), e com o aumento da ingesta
hídrica. Pacientes com tendência à diarréia devem ser investigados quanto à causa do
sintoma a fim de que o mesmo possa ser debelado com o tratamento efetivo do
problema. Orientar quanto ao hábito intestinal é importante em pacientes com
hemorróidas, pois geralmente os mesmos costumam insistir em evacuar pelo menos uma vez ao
dia e tentam eliminar qualquer quantidade de fezes porventura existentes no reto, mesmo
que de pequeno volume e não suficientes para promover uma evacuação fisiológica. Estes
pacientes devem ser instruídos que é normal evacuar o reto de fezes desde três vezes ao
dia até uma vez a cada três dias; que devem aprender a obedecer o primeiro reflexo
diário para a evacuação, que se dá pela manhã, após o desjejum; e que não devem
insistir em evacuar até o último fragmento de fezes, pois o esforço necessário para
que tal evento ocorra é um dos principais causadores do descolamento tecidual que leva à
formação de hemorróidas.
O emprego de medicações vasotópicas possui ampla penetração
popular pelo seu emprego indiscriminado, com resultados variáveis. Não há, no entanto,
estudos objetivos que possam autorizar o seu emprego à busca de eficácia no alívio de
sintomas. Da mesma forma, de uso disseminado entre pacientes que sofrem de sintomas
hemorroidários, os preparados de uso tópico parecem conferir algum alívio sintomático,
seja pelo seu efeito anestésico, antiinflamatório, lubrificante, astringente ou
higroscópico.
A trombose hemorroidária costuma responder bem ao emprego de drogas
antiinflamatórias não hormonais de emprego sistêmico (inibidoras das prostaglandinas)
que são potentes redutores do edema e dos sinais flogísticos que envolvem esta
complicação hemorroidária. Associadas ao calor úmido local (banhos de assento mornos),
também com efeitos antiinflamatórios significativos, conseguem atualmente evitar o
tratamento cirúrgico na maioria dos casos de trombose hemorroidária externa observados
na clínica.
2. Invasivo
A racionalidade do tratamento conservador invasivo é a de
provocar fixação da mucosa anal e dos coxins vasculares hemorroidários submucosos à
musculatura subjacente, de onde, se não tivessem se descolado, não dariam ensejo ao
aparecimento das hemorróidas.
Os métodos de fixação mucosa atualmente preconizados e em uso em
coloproctologia são: tratamento esclerosante, ligadura de hemorróidas com anel
elástico, fotocoagulação infravermelha e diatermia bipolar. Outros métodos
existem, mas não serão comentados aqui, por terem sido
abandonados na prática clínica, ou por não serem amplamente utilizados,
são eles: a dilatação anal forçada (técnica de Lord), o congelamento de hemorróidas, a destruição hemorroidária por aplicação de
corrente galvânica, a ligadura
da artéria retal sob controle ultra-sônico e a laserterapia.
O tratamento esclerosante consiste da injeção submucosa, na
substância dos coxins vasculares e acima deles, de soluções esclerosantes (a solução
de fenol a 5% em óleo de amêndoas é a de uso mais consagrado). A substância
esclerosante injetada provoca, ao cabo de alguns dias, uma intensa reação
fibrótica
que levará à fixação do coxim vascular às estruturas subjacentes. Atualmente o
tratamento esclerosante é indicado para hemorróidas de 1º grau que sangram.
Na ligadura elástica de hemorróidas até três mamilos
hemorroidários podem ser tratados numa única consulta, com muito pouco desconforto. Um
anel elástico de borracha siliconizada é disparado por sobre a base de um coxim
vascular, de forma a estrangulá-lo. O mamilo hemorroidário ligado evoluirá para necrose
e se destacará, sendo eliminado, juntamente com o anel elástico dentro de 7 a 10 dias. A
úlcera anal resultante cicatrizará e provocará, com a fibrose envolvida no processo
cicatricial, a fixação da mucosa circunvizinha aos planos teciduais subjacentes. A
ligadura elástica de hemorróidas é o tratamento atual de eleição para hemorróidas de
2º grau, que, após o advento deste método, só são operadas em 20% dos casos.
A fotocoagulação infravermelha consiste na aplicação de pulsos de
radiação infravermelha em múltiplos pontos coroando um ou mais coxins vasculares
internos. A lesão térmica puntiforme múltipla causada evolui para a coalescência,
formando uma úlcera, que, ao cicatrizar, fixará a mucosa da mesma forma que nos métodos
anteriores. Os melhores resultados obtidos com a fotocoagulação infravermelha são com
hemorróidas de 1º grau.
A destruição por diatermia bipolar usa o efeito diatérmico da
corrente elétrica para causar destruição térmica de um ou mais coxins vasculares
internos. É um método que vem sendo usado em alguns centros com declarado sucesso.
Consiste no pinçamento (pinça de diatermia bipolar) de toda a base de um mamilo
hemorroidário e da aplicação da corrente elétrica em alta freqüência (que só
provoca o aumento de temperatura tecidual e não choque), que flui de uma extremidade à
outra da pinça. A elevação da temperatura tecidual provoca necrose por coagulação do tecido
aprisionado entre os ramos da pinça. O tecido necrosado se destacará e resultará numa
úlcera, que, cicatrizando, fixará a mucosa circunjacente às estruturas situadas em
planos imediatamente inferiores.
Cirúrgico
A hemorroidectomia é o tratamento mais eficaz no que diz respeito ao
desaparecimento dos sintomas hemorroidários. Em função dos resultados que dá no
tocante ao alívio das queixas dos pacientes, é a forma de tratamento contra a qual todos
os outros métodos de controle de hemorróidas devem ser comparados. Não fossem o
desconforto pós-operatório (dor, produção de secreções anais fétidas, retenção
urinária) e as complicações que envolvem a adoção desta forma de terapia (hemorragia
secundária, fissura anal, abscesso/fístula anal, plicomas, pseudopólipos, cistos
epidérmicos, estenose anal, incontinência) ela seria seguramente mais empregada do que
é atualmente.
Dentre as diversas formas de hemorroidectomia, três são as mais
empregadas no mundo inteiro ainda na atualidade: a hemorroidectomia
aberta, a semi-aberta e a
fechada. Nas três, o tempo inicial da operação é o mesmo, ou seja, o descolamento do
coxim vascular com seu componente externo associado e ligadura transfixante suprapectínea
de sua base. Na técnica aberta, as feridas são feitas em formato de raquete, com o cabo
da mesma voltado para o orifício anal (entre outras razões, para assegurar que a
porção intra-anal da ferida cicatrize antes da cutânea
externa, para evitar a formação de fissuras anais
pós-operatórias), e são deixadas abertas para cicatrizar por segunda intenção. Tais
feridas cicatrizam em média em 30 a 45 dias. Na técnica semi-fechada, a mucosa é
reaproximada até a altura da linha pectínea e, daí para fora, a ferida é deixada
aberta como na técnica anteriormente descrita. Nela as feridas cicatrizam dentro de 21 a
30 dias. Na técnica fechada, as hemorróidas são retiradas por descolamento
subcutâneo-mucoso a partir de incisões lineares sobre a substância dos coxins vasculares
hipertróficos. Após a retirada dos componentes vasculares das hemorróidas, a pele e a
mucosa do canal anal são reaproximadas com um chuleio contínuo de fio absorvível
sintético pouco reativo. Na técnica fechada, quando não ocorre deiscência das feridas
cirúrgicas anais, as mesmas cicatrizam por completo em 7 dias. Em cada uma das três
técnicas retira-se no máximo os três mamilos hemorroidários principais, tendo-se o
cuidado de se deixar pontes cutâneo-mucosas interpostas entre as feridas, com no mínimo 1
cm de largura, para evitar a estenose anal pós-operatória.
Mais recentemente, vem-se preconizando a
hemorroidectomia com o emprego de um grampeador circular apropriado para o
procedimento - a hemorroidectomia por grampeamento automático. Nesta
técnica, produz-se a excisão circunferencial da área do canal anal
cirúrgico onde se assentam as hemorróidas. O procedimento é de
realização rápida e é reputado como menos doloroso do que as técnicas
convencionais de hemorroidectomia. A hemorroidectomia por grampeamento
automático ainda é considerada um procedimento não adequadamente
estudado.

Tratamento do Prolapso Hemorroidário Interno
com Trombose (Pseudoestrangulamento Hemorroidário)
O prolapso hemorroidário interno com trombose é uma afecção
dramática tanto no sentido visual, para o examinador que se depara com um caso típico da
doença, quanto no sentido sintomático, para o paciente por ele acometido, que
repentinamente é acometido de intensa dor anal e saída profusa de secreção
serossangüínea oriunda dos mamilos
"prolapsados" e trombosados. O tratamento inicial deve
constar da aplicação de antiinflamatórios não hormonais e alívio da dor. Se o
paciente puder contar com o concurso de um coloproctologista experiente,
poderá ser
encaminhado para uma hemorroidectomia aberta de emergência. Caso contrário, é melhor
que o processo seja "esfriado" (antiinflamatórios não hormonais, calor úmido
local, repouso no leito, amolecimento das fezes, eventualmente antibióticos em pessoas
imunodeprimidas, e sedação da dor) com redução do edema e dos fenômenos flogísticos
intensos associados. O paciente poderá ser operado,
então, 72 a 96 h mais tarde, quando houver menos
alteração anatômica na região anal.
Hemorroidectomias de urgência em
pacientes com pseudoestrangulamento hemorroidário podem apresentar,
como complicação pós-operatória, estenose anal cicatricial em
virtude das grandes excisões teciduais eventualmente realizadas.
Caso realmente o paciente acometido pela afecção necessite do
tratamento cirúrgico é melhor realizá-lo após redução
significativa do edema anal.
Atualmente, com as potentes drogas antiinflamatórias
não hormonais existentes, tem-se conseguido evitar o tratamento
cirúrgico precoce destes pacientes. É possível, nestes casos,
inclusive adotar métodos conservadores invasivos para tratamento da
doença que restar após a redução da trombose e do edema
característico do pseudoestrangulamento.
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